Prévia do livro Uma Esperança no Amanhã

CAPÍTULO 1

Sean

No terceiro toque do celular, consegui encontrar uma vaga na rua para estacionar o carro e atender à ligação da minha mãe.

— Filho, está muito ocupado hoje à noite? Queria saber se você podia fazer uma ronda pela casa da rua Spring.

Eu não podia, mas jamais diria aquilo para ela. Daria um jeito de trocar de área com William e passar por lá.

— Posso, mãe. Mas há algum problema na casa?

— Acho que estamos tendo visitas à noite — ela disse e fiquei logo alerta. — Hoje foi o meu dia de ir lá para ver como as coisas estavam e encontrei uma das janelas do quintal com o vidro quebrado. Estou em dúvida se foi obra de algum desses garotos delinquentes que gostam de depredar o patrimônio alheio por puro prazer ou se foi uma tentativa de roubo.

Ela estava certa com relação aos delinquentes. Parece que a última geração de garotos da cidade havia crescido e se transformado em adolescentes com gosto pelo perigo. Não era raro surgirem notícias de depredação de imóveis fechados e estávamos há uns bons meses tentando pegar o chefe da gangue de arruaceiros. Eles não roubavam nada, apenas entravam nas casas e pichavam todas as paredes, como se fosse uma espécie de jogo em que precisassem cumprir um desafio arriscado.

— Pode deixar. Passarei por lá hoje à noite — tranquilizei-a, decidido a pegar quem fez aquilo. — Se eu não encontrar ninguém suspeito nas redondezas hoje, vou dar um jeito de passar na rua sempre que puder.

— Obrigada, filho.

— Enquanto não descobrirmos nada, é melhor que não vá sozinha à casa. Mesmo sendo de dia, não quero que se arrisque de encontrar um malandro qualquer lá dentro. Quando eles forem presos e a região estiver limpa, eu aviso.

Ela soltou um suspiro de resignação e senti o quanto estava preocupada.

— Gosto muito daquela casa, Sean. Sei que já deveria tê-la vendido, mas ainda não estou preparada para me desfazer dela. Só de imaginar que tem alguém entrando lá à noite, sinto-me mal. Guardo lembranças especiais daquele lugar.

Sim, eu sabia de tudo aquilo e fiquei mais decidido ainda em descobrir o responsável pela tentativa de invasão. Aquele não era apenas um imóvel qualquer, era a casa onde vivemos quando o meu pai ainda estava vivo. Ela tinha um significado especial não apenas para minha mãe, mas para os filhos também. Minhas duas irmãs e eu ainda não havíamos conseguido superar totalmente a perda do nosso pai, principalmente naquela época do ano, faltando três semanas para o Natal. Seria o primeiro que passaríamos sem ele.

— Sentiu falta de algo lá dentro? Como as coisas estavam?

— Aparentemente nada foi roubado, nem a casa estava revirada. Encontrei tudo no seu devido lugar e sem faltar nada, por isso fiquei na dúvida se foi um acidente ou algo premeditado, para a pessoa voltar depois. A tempestade de neve dos últimos dias pode ter jogado algum galho de árvore contra a janela e ela ter se partido.

— Sim, pode ser que tenha sido isso, mas também pode ser que não. Mas não se preocupe, vou resolver tudo. Dou a minha palavra de que vou pegar o marginal que fez isso — garanti antes de me despedir e desligar.

Coloquei o carro em movimento e voltei a entrar no trânsito do meio-dia, trincando os dentes de raiva ao imaginar o que poderia ter acontecido com a minha mãe caso ela cruzasse com o invasor dentro de casa.

— Dessa vez você vai se foder, seu merdinha!

****

Nas duas noites seguintes, não consegui pegar porra de seu ninguém rondando a casa, muito menos entrando nela, e quem ficou fodido fui eu. Diante daquilo, não autorizei que minha mãe voltasse lá.

— Talvez estejamos exagerando nos cuidados, Sean. A janela pode realmente ter se quebrado durante a tempestade — minha mãe disse quando nos sentamos para almoçar três dias depois. — Liguei para Katy, nossa vizinha do lado direito, e ela disse que não viu nenhum movimento estranho na casa nas últimas noites, por isso, acho que não foi nada do que estamos pensando.

As últimas tempestades de neve realmente haviam causado estragos em muitas residências e prédios da cidade, mas ainda assim eu preferia não arriscar.

— Até que eu me dê por satisfeito, não quero nenhuma de vocês pisando naquela casa. Eu mesmo ficarei encarregado de verificar tudo por lá. Se precisar que traga ou leve algo, é só me pedir.

— Que exagero, Sean. — Ela bufou, chateada.

— Não é exagero, é cuidado — disse-lhe, abrandando a voz. — Sinto muito mãe, mas terá de ser assim por um tempo. Não se esqueça de avisar à Corine e à Laura que nenhuma de vocês deve pisar naquela casa até que eu autorize.

 

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