Amostra do livro Um Tempo Para Aceitar

CAPÍTULO 1

Dublin - Irlanda

Catriona

Meu maior erro foi acreditar que nosso amor era forte o suficiente para superar tudo e durar, talvez, algo parecido com o clichê “felizes para sempre”.

Naqueles três anos em que eu e Brandon ficamos juntos, nós tínhamos tudo: amor, cumplicidade, paixão, desejo e amizade. Não sentíamos falta de nada, porque estarmos juntos parecia ser tudo o que precisávamos de mais importante na vida. Até as conquistas materiais pareciam meros complementos da nossa felicidade. A empresa de software dele crescia de forma assustadora e minha clínica veterinária ganhava novos clientes a cada dia. Juntos, funcionávamos muito bem.

Mas aquela harmonia sofreu o primeiro grande abalo duas semanas atrás, quando ele decidiu me fazer uma surpresa.

— Feche os olhos e não ouse me enganar – ele pediu, dirigindo o carro pelas ruas da cidade.

— Você sabe que sou curiosa! Não sei se consigo ficar sem dar uma olhadinha.

Ele soltou uma risada divertida, mas não facilitou para mim.

— Não pensei que tivesse que vendar seus olhos, Cat. Mas podemos usar esta sua echarpe. O que acha?

Seus olhos de um azul esverdeado cruzaram com os meus e vi que ele não estava brincando, porque neles havia aquela determinação que eu conhecia tão bem, típica dos momentos em que Brandon tinha um objetivo a atingir.

— Acho que minha echarpe está ótima no meu pescoço, por isso vou fechar os olhos só desta vez. – Usei um tom de quem estava abrindo uma exceção para ele, o que o fez rir ainda mais.

— Vou lembrar disso hoje à noite, quando você me pedir para realizar suas fantasias.

Deixou o resto subentendido e, quase que de imediato, senti meu rosto corar. Mesmo depois de tanto tempo juntos, em que Brandon me enlouquecia na cama, eu ainda tinha dificuldades para falar tão cruamente sobre sexo quanto ele falava.

— Você está me saindo um mestre da chantagem.

— No amor e na guerra vale tudo. – Depois daquela frase emblemática, começou a reduzir a velocidade do carro. – Já estamos perto.

Olhei-o e não consegui deixar de admirar a beleza máscula do homem ao meu lado, com seus cabelos ruivos, maxilar bem barbeado, nariz proeminente e corpo sedutor. Com trinta e cinco anos, Brandon era masculinamente impressionante e, para meu desespero, atraía os olhares femininos por onde passávamos.

— Já estou pronta – disse, fechando os olhos.

— Só abra quando eu mandar – dizendo isso, ele voltou a acelerar.

Em expectativa, senti o carro rodar pelas ruas, até finalmente parar.

— Chegamos. Agora pode abrir.

Estávamos em frente a uma casa de luxo em Monkstown, de dois andares, com a placa de “vendida” no jardim.

— Brandon?

Ele entendeu minha pergunta não dita e confirmou.

— Sim. É nossa!

Não esperei que dissesse mais nada, descendo do carro com o coração aos saltos. Entrei no jardim e fiquei parada em frente àquela maravilha, até que o senti ao meu lado.

— Gostou?

Havia ansiedade em sua pergunta, mas como não gostar de uma casa daquelas?

Como resposta, pendurei-me em seu pescoço e tomei seus lábios em um beijo apaixonado. Brandon prontamente me abraçou pela cintura, aprofundando o contato entre nossos corpos. Por um momento mágico, esquecemos onde estávamos, deixando fluir o amor que sentíamos um pelo outro.

Quando ele se afastou, tinha aquele fogo no olhar que me derretia por inteiro.

Ah, Brandon! Como não te amar loucamente?

— Já vi que gostou. – Foi seu comentário com a voz enrouquecida, ao acariciar meus cabelos no meio das costas.

— Eu amei! E ainda nem entrei nela.

— Então vamos entrar agora!

De mãos dadas, fomos conhecer a casa dos meus sonhos. Só de imaginar que íamos construir nossa família ali, minha felicidade não tinha tamanho.

— É uma casa de quatro quartos e a propriedade inteira tem muito potencial – ele disse, pegando as chaves no bolso do casaco. – Poderemos fazer ampliações nela, se quisermos.

Eu me sentia como uma menina que tivesse acabado de ganhar um brinquedo novo. E, no meu caso, o brinquedo era uma estonteante casa de bonecas.

Subimos o alpendre que levava à porta principal e chegamos ao grande hall de entrada. No piso térreo, ficava a enorme sala de estar, que era interligada com a de jantar, ambas com lareiras.

No primeiro andar ficavam os quartos, sendo que dois deles eram quartos duplos, onde a luz natural era abundante por conta das janelas altas. Foi de lá que tive a noção do tamanho do jardim que havia em frente à casa, com um amplo estacionamento com canteiros de flores, árvores e uma glicínia charmosa que dava acesso lateral ao jardim das traseiras. Este último, era totalmente fechado, coberto por um gramado e cercado por arbustos coloridos, tornando-se um espaço ideal para as crianças brincarem. 

— Eu adorei, Brandon!

— Nossa rua é tranquila e a localização é perfeita, porque fica a apenas uma curta caminhada da vila de Monkstown.  Faltam só algumas obras ficarem prontas e poderemos nos mudar. Quero estar aqui no Natal. Será o primeiro que passaremos em nossa casa.

Engoli o nó na garganta com certa dificuldade, emocionada.

— Passaremos o Natal aqui? – Estávamos em outubro, portanto, não faltava muito tempo para o Natal chegar.

Sua resposta foi me erguer pela cintura e começar a girar no meio da sala vazia, onde eu já imaginava uma grande árvore de Natal no canto da parede. Do outro lado, teríamos a lareira acesa aquecendo nossas festas de fim de ano.

— Sim! – ele garantiu, rindo ao rodopiar comigo nos braços.

Quando parou, nos beijamos repetidas vezes, entre risos e brincadeiras.

Morávamos atualmente em um apartamento pequeno no centro de Dublin, que era do pai dele, mas eu sempre senti que Brandon não gostava daquela situação. Desde que estávamos juntos, o Sr. Niall nos visitou somente duas vezes, tratando-me muito bem, apesar de ter uma postura rígida e controladora, que batia de frente com a mesma postura do filho.

Agora que a empresa de informática que Brandon montou sozinho estava tendo sucesso, entendia que o seu primeiro grande investimento tivesse sido aquela casa.

A nossa casa!

— Ela é grande e tem espaço suficiente para os nossos filhos – comentei, abraçando-o pela cintura.

Estranhei o seu silêncio repentino. Para quem estava rindo segundos atrás, o corpo subitamente tenso era um contraste gritante.

— Não quero filhos, Cat! – falou em um tom tão definitivo que me assustou.

— Não?!

— Não! – repetiu com convicção, mas deve ter notado meu tom horrorizado, porque suavizou a voz quando voltou a falar. – Estamos bem sozinhos e ainda temos muito o que construir juntos até pensarmos em filhos. Apesar da minha empresa estar crescendo rápido, e a sua clínica também, prefiro viver mais a nossa relação até conversarmos sobre isso.

Já ia dizer-lhe que “isso” era um filho, mas não quis insistir, porque lembrei da outra única vez em que o assunto veio à baila. Foi logo no início, quando ele perguntou se eu tomava pílula, porque, apesar de sempre usar preservativo, queria ter certeza de que não seríamos pegos de surpresa com uma gravidez indesejada.

Na ocasião, achei uma atitude responsável e consciente da parte dele, afinal, nem eu mesma queria filhos àquela altura, pois estava focada em firmar o nome da minha clínica veterinária na cidade, e também estávamos namorando há pouco tempo. Mas agora, três anos depois, com um anel de noivado no dedo, o relacionamento estável, além do sucesso profissional e da vida correndo bem, ter filhos era algo que eu queria muito.

Só que, diante daquela reação dele, fiquei insegura em insistir.

— Tudo bem. Apenas pensei que o tamanho da casa era ideal para uma família maior.

— Ela foi um excelente investimento para o nosso futuro. – Sua resposta lógica demais tirou parte da alegria que senti com a possibilidade de ver nossos filhos enchendo tanto espaço com suas risadas alegres.

Sem que eu esperasse, fui arrebatada nos braços e recebi um beijo quase desesperado na boca, que me deixou desnorteada. Mas foi por pouco tempo, porque logo correspondi na mesma medida e, segundos depois, já estávamos fazendo amor no chão da sala vazia da nossa casa.

— Eu te amo, Cat!

Eram suas palavras de sempre quando me possuía e que eu acompanhava como se fosse um eco.

— Eu também te amo, Bran.

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