Prévia do livro Tudo o Que Sempre Farei Por Você

CAPÍTULO 1

Ana

— Queria saber qual é a sua opinião sobre esse Jack com quem Beatriz está namorando.

O meu pai iniciou a conversa da noite com aquele questionamento para Daniel, que estava sentado ao meu lado no sofá de dois lugares do aconchegante escritório dele, um dos nossos locais preferidos para conversas em família depois do jantar. Com um braço sobre os meus ombros, ele me mantinha encostada ao peito e acariciava distraidamente o meu braço. À nossa frente, em sua cadeira de rodas, o meu pai aguardava por uma resposta.

Aquela não era uma pergunta fácil de ser respondida, uma vez que tanto eu quanto Daniel não gostávamos de Jack. Isso sem falar que Daniel havia assumido a responsabilidade de cuidar de Bia antes da chegada do meu pai, justamente por não confiar no homem que a minha amiga escolheu como namorado.

Como eu conhecia Daniel muito bem, tive a certeza de que seria direto e sincero com o meu pai.

— Fico satisfeito que toque neste assunto e queira a minha opinião, Jorge. Na verdade, gostei muito de ver que tem com Bia o mesmo cuidado que tem com Ana — Daniel respondeu com satisfação evidente no tom de voz. — Bia é uma boa pessoa e merece que nos preocupemos com ela.

— Passei a considerar Beatriz como uma segunda filha e foi por isso que fiquei preocupado quando soube desse namorado dela. Já pedi que o traga aqui para que eu possa conhecê-lo, mas antes gostaria muito de saber a sua opinião.

— A minha opinião sobre ele não é das melhores. Apesar de respeitar as decisões e escolhas de Bia, não o considero um homem confiável. — Daniel trocou um olhar muito sério comigo antes de voltar sua atenção novamente para o meu pai, o rosto com uma expressão de quem estava se lembrando de todos os motivos que o fizeram detestar Jack tanto quanto eu. — Já lidei com muita gente igual a Jack Spencer, tanto no trabalho quanto no meio social. Posso dizer que é o tipo de homem capaz de tudo para conseguir o que quer. Lógico que isso não é de todo mal, pois devemos ser determinados e não perder boas oportunidades na vida, mas a pessoa precisa ter honra e ética ou se torna inescrupulosa.

O meu pai ficou calado por algum tempo, olhando com gravidade para Daniel.

— Com isso, você quer dizer que o namorado de Beatriz é um homem inescrupuloso.

Daniel não vacilou diante do olhar firme do meu pai.

— Ainda não tenho total certeza, mas estou me aproximando disso. Jack é escorregadio, parece ter sempre uma desculpa pronta para justificar atitudes desagradáveis e atos suspeitos. É inteligente e bajulador, mas também sagaz e traiçoeiro como uma hiena.

Nunca uma descrição de alguém ficou tão perfeita quanto aquela que Daniel fez de Jack. Até me arrepiei ao ouvi-lo.

O meu pai olhou para mim com preocupação.

— E você, filha? Concorda com Daniel?

— Concordo. Ele o descreveu perfeitamente.

— Você nunca me disse o que realmente achava dele.

— Foi por falta de oportunidade, pai. Aconteceu tanta coisa em tão pouco tempo que não me lembrei de falar sobre o Jack.

— Então, fale agora. Você é amiga e confidente de Beatriz e deve ter conhecido este Jack quando as duas ainda estavam em Fortaleza. Seu contato com ele foi bem maior do que o de Daniel. 

Falar na presença de Daniel sobre o desconforto que eu sentia na presença de Jack e sobre as atitudes estranhas que ele teve comigo era algo delicado, por isso escolhi bem as palavras.

— Em Fortaleza só o vi por foto. Conheci pessoalmente no aeroporto aqui de Nova York, no mesmo dia em que Daniel também o conheceu. Desde então, sinto-me pouco à vontade na presença dele. Tem algo em Jack que me incomoda. Só não me pergunte o que é, porque não sei. — Senti o olhar intenso de Daniel preso em mim à medida que eu falava. — Não quero ser injusta, porque posso estar enganada, mas acho ele estranho e dissimulado. Quando está na frente das pessoas é um homem e quando está sozinho com a gente parece ser outro.

— E quando foi que ele ficou sozinho com você? — Daniel perguntou de imediato com uma ruga de preocupação no meio da testa.

 Mantive a mesma expressão tranquila no rosto, continuando a acariciar calmamente a cabecinha de Candy, deitada no sofá ao meu lado.

— Na festa de aniversário de Meghan. Ele me encontrou antes de Richard.

Era impossível falar daquela festa sem me lembrar do que havia acontecido entre ele e Hillary. Apesar de tudo ter sido esclarecido entre nós dois, não era algo agradável para ser lembrado e Daniel sabia daquilo. Tanto, que segurou a minha mão que estava livre e deu um beijo leve nos meus lábios. 

Quando se afastou de mim, olhou para o meu pai, que acompanhava tudo com atenção.

— Eu tenho evitado dizer isso para Bia, porque, como já disse, respeito as escolhas dela, mas para você posso falar livremente. Jack Spencer não é um homem a quem eu confiaria uma filha, uma irmã ou qualquer outra mulher. Só que não posso fazer nada com relação às escolhas de Bia. Ela é uma mulher adulta, livre e independente. Não tenho como impedir que fique com o homem.

Pelo olhar do meu pai, senti que ele estava seriamente preocupado.

— Esse é o problema, Daniel. Ela é dona do próprio nariz e não temos como proibir que faça isso ou aquilo. Beatriz me respeita muito e ainda consigo ter alguma autoridade e influência sobre ela, mas não sou seu pai. Acho que nem mesmo o Miranda, que é o pai dela, tem autoridade suficiente para isso. 

Os dois olharam para mim.

— Nem me olhem desse jeito. Já tentei fazer com que Bia veja o Jack como eu vejo, mas ela insiste em dizer que ele é um namorado atencioso, que gosta dela e tem boas intenções. É por isso que digo que não quero ser injusta, afinal, o homem pode realmente estar sendo um bom namorado. Desde que faça a minha amiga feliz, já estou satisfeita. — Olhei para Daniel. — Talvez a má influência sobre Jack seja aquele Jonas.

Só em ouvir o nome de Jonas, o rosto de Daniel ganhou a frieza de um iceberg.

— Ou talvez os dois tenham o mesmo caráter, por isso andem juntos. Não duvido que tenham mais coisas em comum do que imaginamos.

— Quem é esse Jonas? — o meu pai perguntou.

— Um amigo de Jack que trabalha para ele — Daniel respondeu em tom duro. — Veio aqui a mando dele para pegar Ana e faltou ao respeito com ela. Coloquei-o para fora da minha casa.

Fiquei perplexa com aquela informação, uma vez que Daniel nunca havia me dito que Jonas me ofendeu de alguma forma naquela ocasião.

— Ele faltou ao respeito comigo? Você nunca me contou nada.

— Não quis que se sentisse mais insegura e vulnerável do que já estava.

Ele tinha razão. Aquela foi uma época muito estressante para mim. Passei por uma sucessão de eventos traumáticos que fizeram a minha dislexia chegar a um grau altíssimo.

— Não admito que ninguém falte ao respeito com a minha filha — o meu pai falou com raiva.

— Nem eu, por isso exigi de Jack que Jonas nunca mais se aproximasse de Ana. Só não proibi o próprio Jack de chegar perto dela por causa de Bia, mas ele não tem a minha estima e consideração. Tudo bem que o homem também conheceu Bia pela internet, igual como eu conheci Ana, mas desconfio das reais intenções dele. Apesar de serem dois relacionamentos iniciados em um site de relacionamento, não acredito que ele sinta por Bia o mesmo amor que sinto por Ana.

Fiquei emocionada quando o ouvi falar do amor que sentia por mim. Daniel assumia aquele amor com uma naturalidade e firmeza que não deixavam dúvida alguma sobre ser algo importante e definitivo na vida dele.

Notei o brilho de satisfação no olhar do meu pai.

— Eu faria o mesmo para proteger a minha Aninha e agradeço que tenha cuidado dela na minha ausência — o meu pai disse, tão emocionado quanto eu. — Com relação à Beatriz, a partir de agora estou assumindo a responsabilidade por ela e não vou deixar que ninguém lhe faça mal. Seria pedir muito que a hospede aqui na sua casa até que eu conheça melhor este Jack e decida algo com relação a ele? Não vou me precipitar em julgá-lo antes da hora, mas vou considerar tudo o que fiquei sabendo através de vocês dois. Também não terei problema algum em falar a verdade para Beatriz. Ela pode até se chatear comigo, mas não ficarei calado.

— Acho que esta é uma sábia decisão, Jorge. Conheça-o primeiro. Você é especialista em fazer interrogatórios para candidatos a genro logo no primeiro contato.

O meu pai riu com a provocação de Daniel ao se referir à primeira vez em que os dois se falaram pelo Skype.

— Pode deixar comigo. Este Jack pode ser estranho, mas garanto que posso ser mais estranho ainda do que ele.

O clima dentro do escritório amenizou um pouco com aquela brincadeira e fiquei feliz ao ver que a minha amiga tinha dois defensores para tomar conta dela.

— Obrigada por estarem preocupados com Bia e cuidarem dela.

— Cuidarei sempre, Aninha. Gosto dela como se fosse uma filha e você sabe disso.

Daniel se inclinou e me deu outro beijo rápido nos lábios.

— Se depender de nós dois, nada de mal vai acontecer com Bia. Não podemos nos meter demais na vida dela, mas ficaremos atentos e vamos intervir se necessário. — Ele se virou para o meu pai. — Já a convidei várias vezes para ficar aqui em casa e ela não aceitou. Agora, com a sua interferência, tenho a certeza de que aceitará. O convite permanece sempre.

— Obrigado, Daniel.

— Faço com o maior prazer. Se me permite, gostaria de aproveitar para tocar em outro assunto delicado, que tem a ver com a sua família.

Estranhei aquela abordagem, mas quando Daniel lançou um olhar significativo para mim, percebi do que se tratava. Ele queria falar sobre os empréstimos da minha tia Silvia.

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