Amostra do livro CEO Blackwolf - A Vingança do Lobo Negro de Wall Street

CAPÍTULO 1

Nova York

Tyler

— Estou surpreso com a sua vinda ao meu escritório. — Cumprimentei Gary com um caloroso aperto de mãos e sentei-me, observando-o com atenção. — Você está com uma cara terrível. Aconteceu alguma coisa que eu possa ajudar?

Gary era meu primo, mas também era o melhor amigo que eu tinha desde a infância, uma das poucas pessoas que me entendiam. Eu tinha de admitir que me entender não era algo fácil para os outros, muito menos ser meu amigo, por isso valorizava ainda mais a nossa amizade. 

Estranhei a expressão carregada que ele trazia no rosto e que sequer conseguia disfarçar.

— Eu precisava falar com você o mais rápido possível e já adianto que não será um assunto fácil.

— Se for algum problema que a clínica esteja passando, sabe que é só me dizer e ajudo.

Gary era médico ginecologista especializado em reprodução humana e recentemente havia realizado o sonho de sair do hospital onde trabalhava e abrir a sua própria clínica de reprodução assistida. Eu não duvidava do sucesso da Plan Life, mas talvez ele estivesse precisando de ajuda financeira para um investimento maior na empresa.

— O problema não é comigo, mas com você, Tyler. Na verdade, é um problemão.

Recostei-me contra o espaldar da cadeira, olhando-o com seriedade. Eu não imaginava que problemão seria aquele, considerando que tinha tudo da minha vida muito bem controlado.

— Então diga logo o que é e não faça mais drama. Se há um problema me envolvendo, quero saber agora do que se trata — falei calmamente, apesar do meu tom de voz ter soado muito duro. — Você sabe que não gosto de rodeios.

— Não vou fazer rodeios, apenas quis preparar você antes.

— Me preparar para o quê?

Ele suspirou profundamente, contraindo os lábios finos em um gesto tenso e passando a mão com nervosismo pelos cabelos louros, como se estivesse se enchendo de coragem para falar. Aguardei, tentando não perder a paciência com tanto drama. Gary era um excelente amigo e um profissional competente, mas pecava pelo excesso de sentimentalismo.

— Tem uma mulher que está grávida do seu filho.

Impassível, continuei olhando para ele enquanto a informação entrava no meu cérebro e era analisada friamente.

Aquele suposto problemão não existia.

— Não sou doido de foder sem preservativo com tantas infecções sexuais por aí. Nenhuma mulher pode estar grávida de um filho meu.

— Sim, pode — ele afirmou com convicção. — Você não entendeu. Houve um erro na Fertile Future e engravidaram uma mulher com o seu sêmen que foi criopreservado.

Desencostei-me lentamente da cadeira e me inclinei na direção dele, apoiando os antebraços nos joelhos.

— O que foi que você disse?! — Apesar do meu tom de voz controlado, sentia-me enfurecer por dentro. — Me conte isso direito.

— É isso mesmo que você ouviu. Fiquei sabendo hoje pela manhã e vim correndo lhe contar assim que pude. O assunto é tão sério que não quis falar por telefone.

Inspirei fundo, enchendo o peito de ar para descomprimir a tensão.

— Quero os detalhes.

— Tenho um amigo médico que trabalha na Fertile Future. Ele foi hoje na minha clínica para falar comigo em caráter confidencial e contou tudo o que aconteceu. Confundiram o seu nome com o de um doador anônimo que foi escolhido por uma paciente. Ela foi inseminada com o seu sêmen e não com o dele. Só depois que tudo estava feito e a mulher já tinha ido para casa foi que perceberam o erro.

Porra! Eu não estou acreditando nesta merda!

— Quando foi isso?

— Há um mês.

— Um mês?! — rugi, cerrando os punhos de raiva. — E até agora ninguém me disse nada?

— O coordenador do departamento se reuniu com os responsáveis para decidir o que fazer, mas a decisão sem dúvida foi abafar o caso, já que ninguém entrou em contato com você. Segundo Philip me contou, esta não foi a primeira vez que aconteceu um erro deste tipo no departamento, apesar de ter sido a primeira vez envolvendo um dos clientes VIP. Das vezes anteriores, eles abafaram o caso dentro do departamento assim que ficaram sabendo, sem passar o ocorrido para a diretoria. O coordenador quis se preservar no emprego, sem dúvida. Depois que o primeiro erro é encoberto, a situação se transforma em uma bola de neve e todos os erros seguintes também precisam ser acobertados. Um escândalo de troca de embriões mancharia a reputação da clínica e significaria a demissão de muita gente.

O absurdo daquilo me enfureceu ainda mais. Levantei-me da cadeira, sem acreditar que o meu sêmen foi usado indevidamente por um bando de incompetentes.

— Como é que você me indica uma clínica merda dessas, Gary? — rugi, cerrando os punhos de raiva.

Ele se levantou também, fazendo um gesto conciliador com as mãos para me acalmar.

— Eu nunca soube de nada que desabonasse o trabalho deles, Tyler! Aquela clínica é considerada a melhor do país.  Para mim e para muitos médicos da área, a Fertile Future sempre foi uma referência, um exemplo de profissionalismo. Foi por isso que a indiquei anos atrás para você quando me pediu orientação. Jamais pensei que eles encobrissem erros dessa natureza, o que é extremamente antiético.

— Antiético uma porra! Isso é um crime e eles vão pagar. Hoje mesmo vou acionar os meus advogados para entrar com um processo gigantesco contra eles. Quero todos os responsáveis atrás das grades e ver a merda daquela clínica fechada!  

— Não faça nada de cabeça quente.

— Você ainda não me viu de cabeça quente, Gary — garanti, ainda que estivesse fervendo de raiva.

— E nem quero ver — ele desabafou, voltando a se sentar pesadamente na cadeira. — Estou me sentindo culpado por ter colocado você nesta situação ao indicar a Fertile Future. Sei que você estava planejando esse filho para depois que conseguisse incorporar o banco de Colin Barton ao seu, porque antes precisa estar focado nesta aquisição.

Só de ouvir falar o nome de Colin Barton, a minha raiva aumentou. Há anos que eu lutava para comprar o Barton Bank e tirar a família Barton do poder. Aquilo era uma questão de honra para mim, desde que o meu pai havia falecido sem conseguir destruir o homem que foi o seu maior inimigo durante décadas.

Ambos foram amigos e estudaram até finalizar a faculdade de Finanças, ocasião em que decidiram abrir uma instituição financeira juntos e seguir como sócios, consolidando a amizade que já existia. Contudo, Colin Barton era por demais ambicioso e um grande cafajeste. Traiu o amigo e se apoderou do banco anos depois, tirando o meu pai da sociedade sob a alegação de desvio de dinheiro.

Foi humilhante e vergonhoso para o meu pai, que ainda sofreu um outro duro golpe ao ver a mulher que amava casando-se com o seu ex-amigo e pior inimigo. Margaret Barton o abandonou quando ele perdeu o prestígio, a reputação e, logicamente, o dinheiro também.

Apesar de o meu pai nunca ter comentado nada comigo, eu desconfiava que a traição da mulher que ele amou foi um golpe mais duro do que a perda financeira ou a queda de sua reputação. Eu não duvidava que ele tirou forças do ódio para se reerguer décadas depois, tornando-se mais rico e poderoso do que o homem que o traiu.

O objetivo principal da vida do meu pai foi tomar de volta tudo o que Colin Barton havia tirado dele, exceto a mulher. A traição de Margaret Barton o deixou marcado, a ponto de nunca ter se casado na vida. Quando quis ter um filho, foi por inseminação artificial.

Ele foi honesto comigo e não escondeu a maneira como fui gerado. Como nunca tive uma mãe, a ausência dela não me fez falta. Em contrapartida, o relacionamento que eu tinha com o meu pai era perfeito, sempre fomos verdadeiros amigos e não apenas pai e filho. Fomos companheiros em tudo e a morte dele aos sessenta e três anos, vítima de um câncer de pâncreas, deixou-me devastado. Foi a luta do meu pai contra a doença que me fez tomar a decisão de congelar o meu sêmen e garantir que teria espermatozoides saudáveis no futuro, quando decidisse que estava na hora de ter o meu filho.

Há três anos que eu lutava sozinho para adquirir o Barton Bank e agora não faltava muito mais para aquilo acontecer. Eu vingaria o meu pai, destruindo de vez o homem que o traiu.

Depois que aquilo acontecesse, eu teria o meu filho por inseminação artificial, seguindo o exemplo do homem que foi o meu herói a vida inteira, e não apenas um pai. Planejei passo a passo aquele filho. Agora, aos trinta e cinco anos, eu estava preparado para ser um pai igual ao que tive.

Fui criado por uma governanta que eu adorava e que até hoje trabalhava para mim. O mesmo aconteceria com o meu filho, que teria um pai tão amigo que compensaria a ausência de uma mãe. As mulheres eram muito traiçoeiras e eu não queria que nenhuma delas tivesse direitos sobre o meu filho.

Voltei a inspirar profundamente, tentando manter o foco, apesar de me sentir enfurecido com a Fertile Future. Eu nem queria pensar que o filho que planejei com tanto cuidado ia nascer antes da hora e de uma mãe que não escolhi, de uma mulher que nunca vi e que eu nem sabia quem era.

— Quero a ficha completa da mulher que está com o meu filho na barriga.

— Merda! — Gary blasfemou, fazendo uma careta e desviando o olhar do meu, o que me deixou desconfiado.

— Gary — rosnei em tom ameaçador.

Ele bufou, exasperado.

— Todas as provas foram recolhidas, para não deixar pistas e ninguém descobrir depois o que aconteceu. Podem até ter sido eliminadas, que é o mais provável. Este é o procedimento padrão da coordenação, segundo Philip me contou. Ele só ficou sabendo, porque a namorada trabalha no setor responsável e uma amiga ontem confidenciou para ela o que aconteceu. Mila desabafou com ele quando estavam em casa. Os dois estão pensando seriamente em sair de lá. Inclusive, Philip aproveitou para perguntar se ambos poderiam trabalhar comigo na Plan Life — ele contou, ajeitando nervosamente os óculos sobre o nariz. — Philip e Mila sabem dos problemas que vão ter caso acusem a clínica sem prova alguma em mãos, por isso ele me pediu sigilo. Para ser bem sincero, acho que ele só me contou, porque sou seu primo e quiseram que eu prevenisse você. Vai ser sempre a palavra do coordenador contra a de qualquer funcionário que se atreva a falar algo fora da clínica, o que nunca aconteceu até hoje.

Paralisei, incapaz de acreditar que nunca veria o meu filho.

Filhos da puta!

— Alguém lá dentro deve saber quem foi a mulher inseminada.

— Pode ser que sim, mas Philip e Mila agora não têm mais como saber quem é ela. A única coisa que Philip sabe, é que a mulher era alguém importante, porque foi atendida no andar VIP da clínica. O seu sêmen foi enviado para o setor que faz inseminação artificial intrauterina e não as fertilizações in vitro. A mulher recebeu os espermatozoides direto no útero para que a fecundação acontecesse lá dentro — ele me explicou os detalhes técnicos.

— Então, ela é a mãe.

— Sim, é. Se fosse uma fertilização in vitro, o óvulo poderia ser de qualquer outra mulher, já que a fecundação acontece em laboratório e só precisamos de um espermatozoide e de um óvulo, seja de quem for. A tal mulher poderia até ser apenas uma portadora de gestação, a conhecida barriga de aluguel, que receberia dentro do útero o embrião já desenvolvido em laboratório de um casal qualquer, por exemplo. Só que este não foi o caso. A mulher que está há um mês grávida do seu filho, recebeu os seus melhores espermatozoides para que fecundassem um óvulo dela, entendeu?

Porra! A mulher é a mãe do meu filho e eu nem sei como ela é!

— Há alguma chance de essa fecundação não ter acontecido e ela não estar com o meu filho na barriga?

— Sim, claro que há uma chance, mas eu não contaria com isso se fosse você. A mulher pode, inclusive, estar grávida de gêmeos.

— Eu não estou conseguindo acreditar nesta merda! — estourei, afastando-me de Gary antes que descontasse no meu primo a raiva que estava sentindo.

Eu preciso encontrar essa mulher a todo custo!

Andei durante um bom tempo em frente à parede de vidro do meu escritório em Manhattan, pensando nas implicações do que havia acontecido. Afinal, aquele era mesmo um problemão, como Gary havia dito.

Minutos depois, virei-me para ele, que aguardava pacientemente na cadeira.

— O funcionário que descobriu o erro deve saber quem é ela — afirmei, convicto. — Converse com o seu amigo e peça a ele que convença a namorada a conseguir essa informação para mim. Eu pago o quanto for preciso para descobrir quem é a mulher que está grávida do meu filho.

 

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